sábado, 28 de abril de 2012

Demoras muito a sair do banho

Hoje dei por mim a fazer perguntas sem ponto de interrogação, como Fuka-Eri em 1Q84...acontecem-me sempre coisas estranhas quando leio o Murakami...

sábado, 3 de julho de 2010

Coração

"Os meninos já são homens
Nem brincam com os amigos
E um deles há-de te merecer.
Da tua boca hão-de vir as palavras proibidas
Não te vais arrepender
Mas se um dia quiseres voltar à tua terra
saberás onde me encontrar"

O verbo sumir-se

Gosto do verbo sumir-se.
Assim, reflexivo.

Eu sumo-me
Tu sumes-te
Ele sume-se.

sábado, 12 de junho de 2010

Amigos Impermeáveis

FridaKahlo-The-Broken-Column-1944

Hoje criei os amigos impermeáveis.

como os guarda-chuvas.

como as gabardinas.

Como essas botas de água a que os espanhóis chamam carinhosamente Katiushkas.

Digo, estes amigos não os criei eu. eles foram-se construindo a si próprios, trabalhando arduamente, ano após ano, até chegarem ao seu estado de impermeabilidade actual. Apenas lhes faltava um nome - esse com que, a partir de hoje, passo a designá-los.

Estareis perguntando o que é, afinal, isto do amigo impermeável.

Passo a explicar: esta espécie começa a manifestar-se por volta dos trinta anos, quando o quotidiano invade os sonhos, apoderando-se deles não só durante o sono como também à mesa do café. Esta classe de amigo caracteriza-se por desenvolver uma espécie de capa protectora feita de materiais orgânicos praticamente invisíveis que lhe envolve o corpo todo, impedindo, pouco a pouco, o contágio de qualquer partícula de emotividade de outro tipo de espécies mais volúveis.

Os seus feitos, o seu humor, as suas alegrias e desgostos, dependem única e exclusivamente de si próprio, uma vez que, ainda em contacto directo com outras estirpes, não sucumbe nunca a paixões alheias ou a arrebatos momentâneos que não sejam os que estão gravados nas suas entranhas.

O amigo impermeável basta-se a si próprio, não dependendo de nada para o proteger da intempérie. Agasalhado com esse grosso tecido epidérmico, quase nunca se apercebe que às vezes faz frio.

Como o seu sentido de audição é altamente variável, às vezes pode ouvir os nossos gritos (outras vezes não).

O relacionamento de esta espécie de indivíduo com as demais estirpes humanas não poderá, pois, ser pacífico.

No entanto, quem alguma vez se cruzou no seu caminho com um destes amigos impermeáveis, saberá que podem deixar saudades.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Crime do Padre Amaro ou Implacável Eça


Passei um fim-de-semana intensivo na companhia de Amaro e da bela Amélia, entrando às escondidas nas casas das devotas senhoras da pequena e provinciana cidade de Leiria dos finais do século XIX.
Nos serões da S. Joaneira, entre bordados e partidas de cartas, na companhia do cónego Dias, da dona Josefa, das senhoras Gansosos e de um enfadonho e distante João Eduardo, ouvia Ameliazinha entoar o Adeus, sob o olhar embevecido do padre Amaro :

Ai! Adeus! Acabaram-se os dias
Que ditoso vivi a teu lado!...


Como uma espia com medo de ser descoberta, assisti a esses tão secretos encontros na casa do sineiro nos quais, sob o pretexto da educação devota da sua filha paralítica, Amélia e Amaro se entregavam às concupiscências da carne num amor desde o início condenado ao fracasso.

Ela atirava-se-lhe aos braços, com beijos vorazes, como para tocar, possuir nele o “ouro de Santo Ambrósio”, o “embaixador de Deus”, tudo o que na terra havia de mais alto e mais nobre, o ser que excede em graça os arcanjos!
Era este poder divino do padre, esta familiaridade com Deus, tanto ou mais que a influência da sua voz – que a faziam crer na promessa que ele lhe repetia sempre: que ser amada por um padre chamaria sobre ela o interesse, a amizade de Deus; que depois de morta dois anjos viriam tomá-la pela mão para a acompanhar e desfazer todas as dúvidas que pudesse ter S. Pedro, chaveiro do Céu; e que na sua sepultura, como sucedera em França a uma rapariga amada por um cura, nasceriam espontaneamente rosas brancas, como prova celeste de que a virgindade não se estraga nos abraços santos de um padre…
Isso encantava-a. Àquela ideia da sua cova perfumada de rosas brancas, ficava toda pensativa, num antegosto de felicidades místicas, com suspirinhos de gozo.

Amélia não sabia ainda de que massa era feito esse tal Amaro, violento, maquiavélico, tão cobarde e egoísta que não chega sequer a pôr a hipótese de abandonar o sacerdócio - para o qual havia sido empurrado sem vocação - em favor de esse amor pungente (nem mesmo quando Amélia lhe confessa que vai ter um filho seu).

O final não conto, embora muitos já o saibam.

Embalada por este ambiente eclesiástico descrito sob a forma de uma magistral crítica ao clero e à sociedade de época, resolvi continuar a temática vendo o filme com o mesmo nome, realizado por Carlos Carrera, inspirado nesta obra-prima do Eça.
Não se me podia ter ocorrido pior ideia.
O filme passa-se na cidade de Los Reyes, México, e pretende ser uma abordagem contemporânea à narrativa queirosiana (devo dizer que a novela, publicada em 1875, se me afigurou como totalmente contemporânea, podendo ter lugar nos nossos dias, num qualquer lugar perdido do Portugal profundo). Como se não bastasse a introdução de temas como guerrilhas, narcotráfico e abortos ilegais, espetam-nos como Amaro com Gael García Bernal, que de padre tem mesmo muito pouco e definitivamente não conseguiu dar forma a tão complexa personagem. (a Gael queremo-lo com poucos banhos, cabelo semi-oleoso e camisa suada, como em "Amores Perros" ou "Y tu mama también")
Se o romance entre os protagonistas é enfadonho e desinteressante, as dúvidas, contradições, considerações éticas e conturbadas decisões das personagens são praticamente ignoradas, na pressa de acelerar o guião e na fraca interpretação dos actores principais.

A quem só viu o filme, aconselho vivamente a leitura do romance, preferencialmente quando tiverem algum tempo disponível porque, aviso já, pode ser uma daquelas maratonas de leitura compulsiva que não conseguimos abandonar antes de chegar ao final.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

PSY - cólogo, quiatra, canalista, cotrópico

Uma mão com sete dedos. Uma obra desbordante.
Até agora, o melhor espectáculo do ano!



"En la tranquilidad del despacho de un psiquiatra, un hombre sentado escucha voces que le empujan a trepar sobre un trapecio y a suspenderse de los dedos de los pies.
En medio de un cruce, otro hombre, que sufre trastornos obsesivos compulsivos, se abandona a merced del tráfico y trata de salir haciendo acrobacias entre una marea de peatones.
Enfrentando su agorafobia, una mujer se balancea en los aires, mientras que otro personaje se busca a sí mismo entre una locura de rostros enmascarado, se viste en equilibrio sobre sus manos, cabeza abajo.
Para su cuarta creación, Los 7 Dedos de la Mano se sumergen en el universo rico y surrealista de la psique humana, viajando a traves de paisajes cambiantes, sueños borrosos y recuerdos fragmentados".

segunda-feira, 19 de abril de 2010


La policía de Nueva York ha tenido que atender en las últimas semanas decenas de llamadas de ciudadanos preocupados por haber visto personas en los tejados de varios edificios, inmóviles, mirando hacia abajo y aparentemente preparándose para saltar al vacío.

En realidad, se trata del último trabajo del escultor británico Antony Gormley, que consta de 31 figuras de tamaño natural realizadas en hierro y fibra de vidrio. Las esculturas se han instalado en calles, aceras y tejados de los edificios que rodean Madison Square Park como parte de una exposición al aire libre titulada Event Horizon, que comenzó el pasado 26 de marzo.

Desgraciado incidente crea más confusión

Aunque la policía había alertado previamente de la exposición a los residentes de la zona para que no confundieran a las figuras con personas en peligro, un desgraciado incidente ha contribuido a crear más confusión, ya que el pasado miércoles un estudiante de la Universidad de Yale saltó desde el Empire State Building, uno de los lugares en los que se encuentra instalada una figura.

notícia publicada em hoyesarte.com

sábado, 3 de abril de 2010

Apagón analógico


Hoje enterra-se em Espanha a televisão que sempre conhecemos.
Já não há forma de escapar à Era Digital.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Bodas de Prata

Entrei no táxi para uma viagem relativamente curta. Indiquei ao taxista a direcção do hospital onde tinha marcado uns quantos exames para averiguar a origem das minhas alergias cada vez mais intensas, que me acentuam a rouquidão da voz e dão um certo tom fanhoso ao meu discurso.
Perguntou-me de onde era - e eu a pensar que falando pouco já conseguia disfarçar a minha condição de emigrante.

- Portugal? Foi o único país estrangeiro onde até hoje estive
.

A mulher de Badajoz. atravessar a fronteira de manhã cedo. tomar um café em Elvas. comprar umas toalhas, talvez. pagar em escudos. dizer obrigado. e pela tardinha regressar ao sossego do lar, que o dia foi já demasiado agitado e não há sensação tão boa como a de nos sentirmos, sãos e salvos, em Casa.
Falou-me ainda dessa viagem de sonho, promessa ainda por cumprir, à bella Itália.
Viagem dos amantes recém-casados. lua de mel prometida entre dois tragos de champanhe. gôndolas e fontanas. pizzas e rizottos. palácios e catedrais. Viagem tantas vezes adiada. lua sem mel. boda sem sal.
vidinha.
Depois de tantas não-viagens, este ano, taxista e sua mulher, celebram as bodas de prata.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Homem Orquestra

Quinta-feira no Circo Price.