sábado, 20 de outubro de 2007

Descarga emocional


Celebro a tão esperada sexta-feira num cenário como este, escolhido a dedo para passar a bem merecida noite de folga.
São cinco e meia da manhã e já todos dormem, penso.
Blasfemo, maldigo, praguejo.
Sinto-me quase a pessoa mais infeliz do mundo.
É então que ouço, no corredor do prédio, os passos rápidos e furiosos de uns sapatos de tacão.
Uma voz feminina solta um grito ameaçador: "
se sais agora à rua podes ter a certeza que atiro todas as tuas coisas pela janela!"
Prendo a respiração. Não quero perder pitada.
Ele vai mesmo sair.
Ela está segura de que vai mandar, um a um, cada um dos seus pertences pela janela fora.
Neste momento surge-me uma dúvida que considero pertinente: estes vizinhos vivem num apartamento interior, o que significa que as janelas de casa não dão para a rua mas sim para o pátio interior do prédio.
Pergunto-me como o fará: transportará ela, uma a uma, cada uma das suas coisas até à rua? Ou atirá-las-á para o pátio comum e amanhã de manhã teremos uma aglomeração do condomínio a lutar pelo melhor par de calças ou as sapatilhas mais en voga para levar para casa?
Oiço os passos dele a descer as escadas. Vai mesmo sair.
Ela fecha a porta com um estrondo.
...ouço-a a chorar baixinho, no silêncio da noite.

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